O primeiro processo de mundialização foi liderado inicialmente pelos portugueses, quando lograram “navegar por mares nunca antes navegados”. Ao longo do tempo sempre nos caracterizámos pela relativa facilidade de integração com outros povos e, talvez ainda em resultado da população autóctone reduzida, sempre contrariamos a postura espanhola de imposição pela força (tendo esta levado à destruição de 3 civilizações), sendo o resultado desse nosso comportamento a integração nas comunidades ou povos com os quais estabelecíamos contacto.
Este nosso temperamento de aceitação, segundo alguns justificados por estarmos face ao Atlântico e por isso abertos ao desconhecido, levou-nos a ser os primeiros a ter relações comerciais com o secular Japão fechado sobre si mesmo, tendo mesmo cedido o nosso obrigado para derivar o árigatô, no pouco conhecido Benin os guerreiros portugueses são actualmente imagens tradicionais que representam coragem, destreza militar e solidariedade entre os paises e muitos outros exemplos de passividade nas relações internacionais poderiam ser referenciados.
Os números actuais são expressivos e claros: 40% dos Portugueses residem fora de Portugal, em diferentes países, em distantes continentes… Os números que apresentamos de seguida podem ser meramente descritivos ou podem representar uma oportunidade única, real e ainda praticamente inexplorada: a criação de um lobby através da diáspora portuguesa. É fundamental reflectir nessa oportunidade e é esse exercício que este artigo pretende efectuar.
Em França a comunidade Portuguesa, nascidos em Portugal e luso-descendentes representa sensivelmente 800 mil pessoas, na África do Sul cerca de meio milhão, nos EUA ronda as 1.154 mil pessoas, na Venezuela 400 mil, em Inglaterra 200 mil, na Suíça 150 mil, na Alemanha cerca de 132 mil, na China (Macau) numa população total de 435 mil habitantes cerca de 100 mil possuem passaporte Português, em Espanha 64 mil, na Austrália 55 mil, no Luxemburgo representamos 10,8% da população total (até celeuma com a exposição da nossa bandeira nacional já existiu) , depois ainda há comunidades numerosas em Angola, Moçambique, Andorra…
A diáspora portuguesa, independentemente da latitude, acaba por partilhar comportamentos que nos habituámos a caracterizar e, por vezes, a ironizar: vincado respeito pelas tradições nacionais, trato pacifico e facilidade de integração, por vezes mesmo enfrentando dificuldades linguísticas sobretudo nas gerações mais antigas, uma enorme capacidade de trabalho até para cargos mais exigentes fisicamente, seriedade e fidelidade (aspecto muito valorizado actualmente em França mediante a existência de outras comunidades mais tumultuosas e que por isso são a génese de fricções sociais e politicas). Mas raramente nos questionamos de que forma esses Portugueses extremamente orgulhos da sua pátria podem ser úteis ao crescimento de Portugal, mesmo estando a tantos quilómetros de distância.
Na realidade nunca se discutiu abertamente uma visão estratégica para a enorme diáspora Portuguesa, plano esse que fortaleceria o poder e o peso de Portugal junto das comunidades locais e, paralelamente, ser uma oportunidade para os nossos interesses, em termos económicos, comerciais, políticos.
Parece um conceito abstracto e os benefícios de tal estratégia surgem turvos numa primeira análise, mas a estratégia proposta, tácita e silenciosa, já é levada a cabo por outros povos, (como os Judeus) sendo os resultados são importantes. Por exemplo, na área financeira internacional é usual existirem muitos judeus a trabalhar. Numa análise desatenta poderíamos referir que é um povo com capacidades intrínsecas para esta área específica ou que por motivos religiosos acabaram por ser pioneiros na área e com isso criaram uma tradição, mas estes motivos explicativos não são só por si suficientes uma vez que no processo de recrutamento existe uma tendência tácita e contínua de recrutar novos colaboradores com as mesmas raízes, criando-se assim um clã que manterá os mesmos comportamentos e assim irá fortalecer em poder e número a base inicial. Mas este exemplo é transversal a outras áreas. Este sentido de proximidade em termos culturais tem spillovers positivos, como a procura por outros serviços prestados igualmente por empresas ou departamentos liderados por pessoas da mesma comunidade. O efeito bola de neve, ao longo das décadas, começa a surtir efeitos desde o meio académico, sendo transversal a vários sectores e terá relevância política.
Mas esta tendência é ainda complementada por uma estratégia diplomática estudada e que visa valorizar o peso das comunidades no seio da sociedade, solicitando mais regalias e incrementando o peso político e social.
Exemplos que deveriam ser introduzidos juntos das comunidades Portuguesas no estrangeiro:
- Preferência pelo recrutamento de colaboradores (obviamente válidos e com elevadas capacidades) com origem Portuguesa.
- Nas relações comerciais, preferência por empresas (com elevados padrões de profissionalismo, claras mais valias e com preços de mercado competitivos) com origem portuguesa. Esta opção pode passar por empresas de empreendedores da comunidade portuguesa local ou, mais abrangente, por empresas de Portugal (sendo então uma forma para que algumas empresas de Portugal se consigam implementar em outros pais).
- As numerosas comunidades nacionais podem ainda ser a porta de entrada de produtos nacionais (mais fácil de adquirirem pela proximidade cultural) e seria ainda uma forma de aperfeiçoamento da estratégia para uma ampla presença no novo pais em termos comerciais.
- Caracterização detalhada da comunidade e identificação dos profissionais e empresas de referência e de origem portuguesa em múltiplas áreas, de forma a existir um acompanhamento permanente da rede de origem portuguesa e utilização da mesma como promoção do crescimento e dinamismo económico e comercial.
- Presença habitual e regular de representantes políticos nacionais e uma permanente diplomacia junto das autoridades locais a todos os níveis.
- Criação de centros de referência (em todos os países com fortes comunidades portuguesas) de promoção da cultura, tradições e mais-valias actuais dos portugueses (habilidade linguística, espírito inovador, etc…). Inacreditavelmente a visão de Portugal em muitos dos países com forte comunidade Portuguesa está desfasada da realidade actual e Portugal ainda é caracterizado como um pais de agricultores e pescadores, atrasado e retrógrado.
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