quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Artigos sobre Reforma

Chamamos a atenção para os vários artigos que temos escrito, recentemente, dedicados ao tema da reforma. Para tal, basta seguirem os links para o nosso site:

www.escolafinancaspessoais.com

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Próximo Curso de Finanças Pessoais e Poupanças

Caros leitores

Com muito agrado anunciamos o agendamento de mais um curso de Finanças Pessoais e Poupanças.

Após o sucesso do primeiro curso na modalidade actual, agendamos o próximo curso para o dia 12 de Fevereiro, em Lisboa (local a anunciar). Será um curso de um Sábado, com a duração de 6 horas e o seguinte programa:

  • Entender o contexto actual;
  • Construção e interpretação de orçamentos;
  • O seu rendimento real;
  • O custo real de uma despesa;
  • Funcionamento do negócio bancário;
  • O sobreendividamento e como o combater;
  • Como escolher o seu banco;
  • Pague primeiro a si próprio;
  • Definição de objectivos e cabazes de poupança;
  • A sua organização bancária;
  • A educação financeira do seu filho;
  • Truques e sugestões de poupança.
Duração: Seis horas;
Custo: € 80 (IVA incluido);
Modalidades: Disponibilizamos cursos intensivos de um dia ou em duas sessões de três horas.
Número de participantes: Turmas entre 10 e 15 participantes.

Para mais informações sugerimos:
Telefone - 213 520 556
info@reorganiza.pt
www.escolafinancaspessoais.com

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A nossa divida pública: vista por nós e vista pelos outros

Parte I: Vista por nós

“Como medir o sucesso?”. Pergunta simples mas de resposta menos óbvia. Nada como recorrer a um pequeno exemplo:

Consideremos uma turma de 10 alunos, no entanto esta turma tem comportamentos muito pouco animadores: os alunos são pouco rigorosos, não estudam e procuram fazer os exames sem qualquer tipo de preparação, apenas respondendo com ideias momentâneas e desenquadradas das temáticas centrais. Ora, nesta turma foi necessário escolher um aluno para representar a turma, acabando por se seleccionar o único a não ter tudo negativas. Na realidade só tinha uma positiva, mas não deixa de ser o melhor da turma.

Esta história ilustra bem que o sucesso é relativo, como se sabe, porque é importante salientar qual a referência comparativa (ou benchmark).

Recentemente ao se definir (pelo Ministro das Finanças) a barreira dos 7% como o limite máximo do sustentável, ao nível dos juros da dívida pública, claro que tudo o que ficar abaixo será “comparativamente” um sucesso!


Recordamos que os juros da dívida pública ( a 10 anos):
• A 31 de Dezembro de 2009: os juros das obrigações do tesouro fecharam na média de 4,069;
• Esta semana: os juros das obrigações do tesouro atingiram o valor médio de 6,7%;
Estes números só por si são claros que é insustentável produzir para alimentar o custo financeiro da dívida:


Imaginemos que adquiriu uma casa de 200.000 €.
• Se pagar (durante 10 anos) a taxa de juro anual de 4,0690%, irá pagar, no final irá pagar: 298.018
• Alternativamente, se pagar (durante 10 anos) a taxa de juro anual de 6,7%, no final irá pagar: 382. 537,65€

Mas a dívida portuguesa não é 200.000 €!!! A dívida directa do estado no final de 2010 era de 151.774.628.631€.

PS- o valor actual da dívida é de aproximadamente 92% do PIB.O aumento em valor no ano passado foi de 19.028.221.104€ , o que dá uma média diária de 52.132.113€.
Este é o sucesso descrito internamente!


Parte II: Vista pelos outros

Deixamos ainda algumas expressões de Paul Krugman (prémio Nobel da Economia em 2008):.
Enquanto em Portugal se considerou o dia e a operação um sucesso, o reconhecido economista refere: “Mais uns sucessos como este e a periferia europeia será destruída.”

Segundo o mesmo economista : “fardo do pagamento de juros crescentes sobre uma economia que provavelmente enfrentará anos de uma deflação opressora” devido à dívida.
Esta é a realidade vista de fora (já agora por um Economista que foi condecorado pelo Nobel da economia recentemente…)!

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

São jovens e qualificados: e optam por emigrar!

O Jornal Inglês “The Guardian” (11 de Janeiro de 2011) analisou, na sua edição online ,um fenómeno em Portugal: os elevados fluxos de emigração (sobretudo de jovens qualificados).

Os fluxos actuais, de saída de pessoas, só podem ser comparados aos níveis registados da década de 60. Estima-se que actualmente vivam fora de Portugal mais de dois milhões de portugueses. Segundo o economista Álvaro Pereira, 6,5% da população deixou o país entre 1998 e 2008.

A grande diferença é que, ao contrário do que se observou na década de 60, agora são essencialmente jovens e qualificados. Já em 2006 o Banco Mundial alertava para o facto do nosso país sofrer uma grave “da fuga de cérebros” (traduzindo em números algo como: 13% dos licenciados a emigrar).

De salientar as consequências a prazo deste fenómeno:
1) Défice do cérebros, uma vez que não há uma significativa imigração altamente qualificada para abastecer o mercado de trabalho;

2) Diminuição da população, porque a taxa de natalidade está a abrandar.

Ambos os factos podem ter um impacto significativo (a longo prazo) no equilíbrio da segurança social.

O “The Guardian” deixa ainda uma questão no ar: “Será este fenómeno uma coisa má”?

O mesmo jornal refere que, enquanto na Holanda é normal sair da casa dos pais aos 18 anos, em Portugal cerca de 60% dos jovens entre os 18 e os 34 anos ainda moram com a família (uma das maiores taxas da UE segundo o Eurostat em 2008).

Ora, os dados da emigração, por um lado, podem indicar “uma geração mais auto-suficientes, curiosos e menos mimados”. No entanto, razões económicas, nomeadamente poucas oportunidades e fracas progressões na carreira, são igualmente razões justificativas do fenómeno.

A grande questão que fica é se esses trabalhadores (altamente qualificados) vão regressar. A resposta costuma ser “ Se houver oportunidades (equiparáveis entenda-se”, mas mediante a situação económica actual a confirmação desta expectativa será difícil…

domingo, 9 de janeiro de 2011

Site www.maisgasolina.com

Uma ferramenta extraordinária para todos os nossos leitores... o site www.maisgasolina.com permite saber os postos de abastecimento mais baratos, com possibilidade de fazer uma pesquisa por região. É extraordinário.

Contudo, há uma conclusão preocupante. Na realidade, nas grandes cidades, os preços não variam muito pelas várias marcas e localidades. Apenas onde existem os hipermercados que vendem gasolina é que se consegue assistir a alguma concorrência de preços.

Uma reflexão. Fico algo curioso quando oiço o argumento que o preço da gasolina é igual em todo o lado porque as margens são baixas e não há grande possibilidade de baixar preços. Mas se isso é assim, por que raio é que a gasolina é mais barata ao fim-de-semana? Ou por que é que quando a Repsol vendia gasolina mais barata à quarta-feira, o preço começou a baixar nos outros sítios?

Só esta curiosidade

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A Renegociação dos Seguros - Como poupar 25% em 10 minutos

Neste artigo queria deixar umas notas relativamente à renegociação de serviços e produtos. Na realidade, sou um fervoroso adepto da renegociação, pois acredito que a globalização tem um conjunto de coisas muito positivas que importa ter a capacidade e inteligência de explorar. Uma delas é a competição pelos clientes, muitas vezes visível na queda dos preços cobrados, para um mesmo nível de risco percebido.

Neste sentido, como faço com regularidade, resolvi telefonar ao meu mediador de seguros, pedindo-lhe que me revisse o prémio do seguro, pois com esta história da crise tenho que cortar custos.

Como sou cliente há algum tempo, e como o custo de retenção é inferior ao custo de aquisição de novos clientes, recebi desde logo um desconto comercial adicional de mais 5% tendo-me sido recomendado que deixasse de ter o seguro de Responsabilidade Civil facultativo. Aliás, o seguro obrigatório é de 3.250.000€. Com um seguro desta magnitude, e não contando eu mandar a ponte 25 de Abril abaixo, para que preciso de um seguro facultativo de 50.000.000€?

O segundo passo consistiu em telefonar para um mediador de seguros que trabalha com várias entidades. De imediato, forneceu-me um serviço que era 10% inferior ao meu seguro já renegociado. Informou-me, aliás, que sendo eu sócio do Automóvel Clube de Portugal (que recomendo) podia ter um desconto adicional, bastando ligar para lá.

Assim fiz, e com isto consegui mais 10% de desconto numa cobertura muito mais interessante (incluía até o carro de substituição).

Ou seja, em 3-4 telefonemas consegui baixar a minha prestação de mais de 600€ para perto de 450€. Nada mau.

No entanto, apenas uma ressalva. Para mudar o seguro, temos de o fazer muito perto do período de fim da cobertura pois, caso contrário, a lei não nos permite. Assim, teremos de ficar vinculados ao nosso seguro se não cumprirmos com este preceito. Faz sentido? Tenho a certeza que não pois isto é algo que afecta significativamente a concorrência (onde está a autoridade da concorrência?). Contudo, se se precaver, terá uma poupança extraordinária, sem grandes dificuldades e sem perder tempo.

Ficou convencido?

Experimente. E veja as condições do ACP. Pode fazer sentido ser sócio apenas para usufruir deste benefício, apesar de ser sócio no ACP ter muitos outros (como descontos de 6 cêntimos na BP, ou dois reboques gratuitos anuais... entre muitos outros).

Conversão do Site - www.escolafinancaspessoais.com

Caros leitores

Estamos bastante satisfeitos com a adesão que o nosso projecto de formação e informação tem tido. Temos tido a oportunidade de dar formações, temos tido grande aceitação por parte das empresas, que cada vez mais nos contactam para darmos a conhecer os nossos serviços e para dar formações.

No seguimento, e tendo sempre presente que este projecto se destina a todas as pessoas com necessidades de aprendizagem nesta área, resolvemos optimizar o nosso site corporativo que será, cada vez mais, capaz de dar resposta às novas necessidades deste projecto. Assim, podem encontrá-lo em www.escolafinancaspessoais.com 

Na continuação do nosso projecto, estamos em constante diálogo com jornais regionais, de modo a levar os nossos conhecimentos a outros públicos. Apostamos claramente na população do interior do país, e brevemente teremos formações nessas localidades.

Aliás, contámos com o apoio do dono do site Produtos Bancários, que foi responsável pelo design do nosso novo site. Um site que agrega informação corporativa, mas também artigos de opinião, dicas, e muitas outras coisas.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Desbloquear o Carro passa a custar o Dobro

Chamamos a atenção para uma notícia que lemos no Jornal de Negócios que apesar de não nos surpreender, não pode deixar de nos preocupar e chatear.

No seguimento das medidas de austeridade, sabemos que o nosso brilhante e sapiente governo nos impôs a subida de todo o tipo de tributações, as mais visíveis sendo o aumento do IRS e dos vários escalões do IVA.

Como se não bastasse, foi introduzido algo caricato denominado de Taxa de Utilização do Sub-solo. Ou seja, o português, que tem alguns direitos por ter nascido neste país à beira mar plantado (como sendo o usufruto do seu país e do seu território), tem agora de pagar uma taxa pelo facto dos canos do gás passarem de baixo de terra. Claro que é um nome bonito para dizer que nos estão, mais uma vez, a ir ao bolso. Mas isso é outra conversa.

Agora, vem a subida dos custos associados ao desbloqueio de viaturas. Pode-se dizer que esta medida veio com o intuito de penalizar mais os automobilistas que não pagam o parquímetro. Agora, o que podia ser feito era aumentada a multa, e não a taxa de desbloqueio de viaturas. Ou a taxa de reboque (algo que não pedimos, claro) ou o custo por quilómetro (quer dizer, o senhor polícia resolve ir passear com o reboque com o nosso carro atrás e pimba... nós temos de pagar).

Enfim, apenas mais um desabafo de quem acha que já chega. Pelo menos tratem os bois pelos nomes.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Sociedade Civil Parte II: Mas o que é a sociedade civil?

Para responder a esta questão e efectuar uma análise histórica da evolução da sociedade civil, recorremos a uma excelente obra de Luiz Carlos Bresser-Pereira (“Sociedade Civil; a sua democratização para a reforma do Estado”). Ao longo do nosso artigo iremos ter o cuidado de assinalar os excertos recolhidos da referida obra.
De uma forma sumária, a sociedade civil localiza-se entre a sociedade e o Estado, ou seja, cabe-lhe o papel de influenciar o papel do Estado através de uma estrutura organizada como eco da sociedade e dos seus anseios. Entre a sociedade, de um lado, e o Estado e o mercado, de outro, temos a sociedade civil.

Ainda durante a sociedade pré-capitalista de produção, na qual o mercado estava longe de ser o mecanismo básico de coordenação, equilíbrio e apropriação do excedente, a fronteira entre o público e privado não era facilmente definida. Como tal, não existia a necessidade do Estado se afirmar perante a sociedade e vice-versa.

Com a moldagem do Estado moderno, surge um problema que resulta da relação entre o Estado e a sociedade. É neste ponto da história moderna que o Estado é confrontado com uma sociedade “fragmentada e oligárquica”, situação de desequilíbrio que perdurou vários séculos. Em termos práticos, as manifestações concretas desta cresta resultaram em rixas entre uma burguesia liberal contra a aristocracia. Por seu turno, numa segunda fase, surge a luta entre a burocracia socialista e a burguesia. Este desequilíbrio de poderes não ditou, de forma clara , vencedores e vencidos, paralelamente emergia uma sociedade civil como reflexo das vontades heterogéneas da sociedade. Os Estados autoritários (que se prolongaram na Europa até ao século XX) condicionaram consideravelmente a vontade da sociedade civil, no entanto, de forma progressiva, os Estado autoritários ruíram e foi instaurada a democracia.

Na década de 70, a posição do Estado e o equilíbrio com a sociedade civil já se encontrava mais estabilizada, no entanto a crise económica e fiscal que marcaram essa década resultou numa maior pressão no Estado, sendo colocada em causa a posição deste na economia. Mais recentemente, o processo de globalização incrementou essa pressão. Uma ressalva deve ser introduzida de imediato, a globalização não é um fenómeno recente mas a velocidade da mesma incrementou consideravelmente nas últimas décadas mediante a aproximação dos blocos económicos, com as tecnologias de informação, com o decréscimo dos preços das telecomunicações e combustíveis e o surgimento, ainda mais recente, na esfera internacional de economias emergente de dimensões consideráveis. Ora, mediante o processo de globalização “torna-se prioritário reformar ou reconstruir o Estado, ao mesmo tempo que se amplia o papel do mercado na coordenação do sistema económico”.

Com este novo paradigma, uma dúvida surge: quem deverá ser o agente da mudança? O Estado ou a sociedade civil? E neste segundo caso, o que se deve entender por sociedade civil? De forma a obter resposta e conseguir um novo equilíbrio é, indubitavelmente, necessário uma “democratização da sociedade civil”, no entanto não é claro se este processo deverá ser feito por sua própria iniciativa ou será através da interacção com o Estado. Por outro lado, na relação entre Estado e sociedade, o problema da afirmação do Estado frente às oligarquias locais ainda é relevante ou perdeu grande parte de sua relevância dado o avanço do capitalismo e da democracia, sendo então a realidade actual a afirmação da sociedade civil perante o Estado? A obra de Bresser-Pereira visa dar respostas a estas questões.

De forma clara e directa, é reconhecido que antes da afirmação do Estado moderno, o agente da mudança sempre foi “a elite oligárquica de carácter aristocrático e religioso”. O primeiro autor a insurgir-se e a solicitar uma inflexão desta realidade foi Marx referindo “o Estado era uma superestrutura da base económica existente na sociedade” , acabando ainda por sugerir que a mudança deveria ser levada a cabo pelo proletariado. Por seu turno, a direita afirmava que cabia à burguesia impulsionar a mudança. Deixando de lado estes dois extremos, “que podemos considerar tanto utópicos quanto terrificantes”, o conceito de uma sociedade civil democrática passava a ser o cerne da questão. Não era o cidadão em termos individuais que deveria assumir o papel da mudança, na realidade o que tinha sentido seria mais a existência de uma sociedade civil ampla e complexa, existindo ainda espaço para o debate e um incremento do número de participantes de todos os quadrantes da sociedade.

Conforme exposto inicialmente, a década de 70 caracteriza-se por uma redefinição do papel do Estado, por seu turno, na década de 90 procurou-se deliberadamente “reformar e reconstruir o papel do Estado”. A globalização e o aumento das assimetrias sociais incrementou esse desejado, mais concretamente o papel do Estado não deveria ser reduzido ao mínimo só por si, antes pelo contrário, deveria existir uma revitalização dos seus poderes de forma a garantir a “ordem, eficiência produtiva e justiça social”. Neste contexto, a sociedade civil assumia um papel estratégico na reforma das instituições básicas: do Estado e do mercado. A sociedade civil, situada entre a sociedade e o Estado, deixa de ser passiva, dominada pelo Estado ou o mercado, e passa a ter a capacidade em reformar o Estado e o mercado. Como expressa na sua obra Brasser-Pereira: “Os acontecimentos do século vinte introduziram novas regras na forma como o Estado e a sociedade se relacionam. Não é possível pensar no laissez faire depois que o século vinte demonstrou de forma tão clara a potencialidade da intervenção do Estado, como não é possível pensar em um Estado produtor de bens e serviços depois que esse mesmo século deixou evidente as limitações dessa intervenção”. Mediante a evidente revitalização da sociedade civil, existia um aspecto essencial: a democratização da própria sociedade civil.

A democracia era um sistema que já permitia garantir a liberdade e a justiça social, no entanto caracterizava-se por ser um regime político instável. Com o surgimento do capitalismo liberal, a apropriação do excedente passa a ser feita pelo mercado sem a imposição forçada, as classes dirigentes aceitaram a pressão das classes médias e dos trabalhadores organizados por um sistema democrático. Quer o Estado (com a tarefa de regular ou coordenar toda a vida social inclusive estabelecendo as normas do mercado) quer o mercado (com o papel de coordenar a produção de bens e serviços realizada por indivíduos e empresas) são duas instituições criadas pela sociedade. Sendo ambas um resultado da sociedade, necessitam por isso de serem reformadas continuamente, mediante o contexto histórico, económico e financeiro. Mais uma vez surge a questão: quais os agentes aptos a levar a cabo as sucessivas reformas, ou por outras palavras, a mudança?

A primeira resposta possível é: O Estado. Numa primeira fase foi isso que aconteceu, no entanto com o desenvolvimento dos sistemas económicos e sociais, complementados por uma crescente democratização dos sistemas políticos, o actor ou agente principal (de reforma do Estado e do mercado) passa a ser a própria sociedade. Em termos concretos ainda não chegamos a esse ponto mas já estamos no patamar em que é a sociedade civil que desempenha esse papel (“sociedade civil entendida como a sociedade que, fora do Estado, é politicamente organizada, o poder nela existente sendo o resultado ponderado dos poderes económico, intelectual e principalmente organizacional que seus membros detêm”).

Na sua obra Bresser-Pereira introduz uma ressalva importante: “A sociedade civil é crescentemente o agente transformador nas sociedades democráticas, mas isto não autoriza transformá-la em um conceito moral, como fez Hegel com o Estado, Marx com o proletariado, o comunismo vulgar com a burocracia, e o neoliberalismo com o mercado. Ao contrário, a sociedade civil é, em relação ao Estado, um fenómeno histórico que resulta do processo de diferenciação social”

Sociedade Civil como agente da mudança: um fenómeno recente

Mediante o exposto na parte inicial deste artigo, concluímos que a sociedade civil como agente da mudança é um fenómeno ainda recente:

• Durante séculos, o Estado impunha-se às nações, nomeadamente às oligarquias locais (na Europa assumiram durante muitos séculos um carácter feudal e religioso);

• No Brasil o Estado teve que se impor aos “coronéis”;

• Na Índia aos marajás;

• Em África aos chefes tribais;

• Em Portugal, durante séculos existia um poder central, dominado pela coroa e a realeza, posteriormente gorada a utopia da primeira república imperou um modelo político autoritário, na qual o Estado assumiu o papel exclusivo como actor da mudança, recorrendo a todas as formas para silenciar e manipular;

Actualmente, a democracia pode ser ainda incompleta e ainda existem oligarquias e lobbys fortes instituídos e, muitas vezes, camuflados. No entanto, a sociedade civil já é independente do Estado, por outro lado, já adquiriu a capacidade em influenciar a organização do Estado e do mercado.

Em Portugal surgiu, na última década, um movimento designado Mais recentemente de salientar o movimento “Compromisso Portugal”: Alguns dos melhores gestores, economistas e professores universitários (casos de António Carrapatoso, António, Horta Osório, António Mexia, António Nogueira Leite, Fernando Ulrich, Paulo Azevedo,etc) organizaram-se e produziram trabalho onde analisaram a realidade do país e fizeram propostas. No início tiveram grande impacto mediático e, por isso, foram alvo de fortes ataques.

Acompanhamos de forma regular o trabalho das “SEDES”: uma das mais antigas associações cívicas portuguesas. Constituída em 1970, os seus fundadores eram oriundos de diferentes formações académicas, estratos sociais, actividades profissionais e opções políticas. Um denominador comum animava os fundadores da SEDES: o humanismo, o desenvolvimento sócio-cultural e a democracia.

No próximo artigo (Sociedade Civil Parte III) iremos abordar as condicionantes da relação Sociedade- Estado.

Sociedade Civil Parte I: O Papel da Sociedade Civil

A situação do endividamento directo de Portugal, resulta num Estado fraco, sem autonomia, incapaz (por exemplo em adoptar medidas contra-cíclicas, um mau sistema de justiça…), injusto (sem capacidade financeira será progressivamente mais difícil ajudar os mais debilitados) …. Além de tudo isto, não podemos esquecer outros problemas, como o risco de colapso da segurança social, o enfezamento do sector primário, os elevados níveis de desemprego, etc.

No entanto, é com alguma estranheza que se observa uma sociedade civil amorfa, sem intervenção e limitando-se a uma atitude passiva de aceitação e conformismo. Por vezes, é referido que o desânimo é de tal forma que é mais fácil aceitar a incapacidade e pequenez individual em detrimento de uma demonstração prática de descontentamento (não de promoção da violência mas de afirmação da sociedade civil em acções concretas mas salvaguardando o respeito pela vida em sociedade). O desinteresse e afastamento manifesta-se nas urnas, ou mais concretamente na não ida às urnas. Estas duas atitudes, quer a passividade quer a desconsideração de um dos princípios basilares em democracia (não exercer o direito de voto), são respostas que acabam por ser uma forma de pactuar com os erros que levam o destino do país, e de todos de forma individual, no mau caminho. Urge despertar a sociedade civil…

Reforçamos que cabe a todos os agentes políticos e sociedade civil assumir as suas responsabilidades, por vezes em micro círculos, por vezes de forma mais vasta e visível…É premente que a sociedade civil seja mais activa, participe com ideias, que fale e expresse as suas vontades e anseios… A sociedade civil em outros países Europeus é mais activa que em Portugal, no entanto os problemas que actualmente enfrentamos deveria permitir uma convergência de comportamentos, no entanto continuamos a demonstrar uma enorme passividade.

No próximo post (Sociedade Civil Parte II) iremos descrever o que é realmente a sociedade civil e a sua evolução em termos históricos...