Gostaríamos de deixar algumas notas tendo por base um artigo publicado por Miguel Sousa Tavares na sua coluna do Expresso, colunista que seguimos com alguma atenção:
É evidente que os celebérrimos 'mercados' são apenas um bando de abutres especuladores, contra o euro ou contra países vulneráveis escolhidos a dedo, que tiram todo o partido que podem da situação. É evidente que, quando tudo isto estiver resolvido, de uma forma ou de outra, o mundo vai ter de encontrar medidas para pôr termo a esse poder sinistro dos especuladores financeiros (que nos lançaram na crise e se aproveitam dela), que roubam o trabalho das pessoas, a poupança das famílias, a riqueza das nações. Ou o fará ou o capitalismo - tal como o conhecemos, fundado nas leis de 'verdade' do mercado - tem os dias contados.
Em primeiro lugar, salientar a definição de Especulador. Na realidade, existe alguma confusão relativamente a este conceito. Um especulador, na sua génese, é um investidor que compra um activo na esperança que este venha a valorizar. Como somos todos pessoas racionais, queremos comprar algo para ganhar dinheiro, e não para perder.
Em segundo lugar, interessa que nos detenhamos um pouco na função dos mercados. Os mercados existem para fazer o encontro das necessidades de financiamento (pelos credores) com as necessidades de investimento (pelos investidores). Em qualquer processo de crédito e investimento, as duas partes têm de avaliar algumas variáveis. O credor tem de avaliar o custo do capital, o que irá definir um patamar máximo para a taxa de juro que está disposto a pagar num crédito. O investidor tem de avaliar o risco que pretende incorrer e a remuneração que exige.
Em terceiro lugar, os mercados encontraram recentemente um instrumento de protecção para o incumprimento de crédito. Quer isto dizer que foram criados seguros para que os investidores se protejam de eventuais falhas no pagamento por parte dos credores. O facto de os mercados estarem num tumulto, actualmente, deve-se à deterioração excessiva das métricas e da qualidade de crédito dos governos. Ora, fará sentido culpar os mercados pelo descontrolo ao nível das finanças públicas dos governos? Isto não será o mesmo que culpar o polícia por não apanhar o ladrão?
É certo que poderiam ser criadas algumas regras para melhor proteger ambas as partes. Contudo, é certo que tem de existir maior controlo sobre a classe política de modo a que seja forçada a tomar as decisões que melhor se enquadrem com as necessidades da estabilidade e sucesso do país.
Finalmente, acusa os especuladores por roubarem o trabalho, a poupança e a riqueza das nações. Mas na realidade, quando subscrevemos produtos de investimento, estamos todos a fazer parte dos mercados. Quando queremos que um investimento seja mais lucrativo, estamos a tornar-nos especuladores. Quando exigimos reformas a 100% na altura da reforma, estamos a recorrer aos mercados para que nos garantam as reformas. Ou seja, todos nós ganhamos ou perdemos, directa ou indirectamente com esta postura dos mercados. Todos somos actores. O problema é que, mais uma vez, quando ganhamos somos uns heróis e quando perdemos a culpa é dos especuladores e dos outros.
Uma última nota. No seu artigo MST fala que as crises são épocas de oportunidades e que nos compete a nós saber aproveita-las. Não podíamos estar mais de acordo.
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