quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Portugal e o Mar: numa óptica de emprego, crescimento e investigação científica

A 27 de Setembro de 2010 a PASC (Plataforma Activa da Sociedade Civil, ou seja,
o ponto de encontro, de discussão e acção de dezasseis Associações provenientes dos mais diversos sectores da Sociedade Civil) levou a cabo uma discussão relativa ao tema: ” A Governação do Mar alargado”.

O Mar é, depois do Potencial Humano Português e da posição geoestratégica do País, a nossa principal fonte de riqueza., no entanto não se tem observado um contributo considerável desta “fonte” no emprego, crescimento e desenvolvimento cientifico de Portugal. A par da agricultura, o Mar é outro sector não só esquecido mas muitas vezes vitima de atrofio resultado do marasmo das não decisões, de opções erradas e descabidas e, ainda, da incapacidade e incompetência dos responsáveis por áreas directamente ligadas ao mar.

A PASC, num comunicado resumo da discussão levada a cabo, não só focou os principais elementos pertinentes como exigiu respostas a quem de direito (a carta original foi enviada ao chefe de Governo o Engenheiro José Sócrates):

“ - Quanto custou a Portugal e aos portugueses a ineficácia das várias propostas, estudos, comissões e as várias tentativas e promessas de gerir o domínio do mar;

- O que tem para propor ao país a Comissão Interministerial para os Assuntos do Mar, que se baseia nas recomendações da Comissão Estratégica dos Oceanos que é inspirada, e bem, nas melhores práticas internacionais, mas da qual nada se conhece quanto a resultados.

- Porque é que, sendo a pesca uma actividade tradicional dos portugueses, foi a nossa frota pesqueira brutalmente reduzida; e porque é que alienámos para a UE a exploração dessa riqueza.

- Porque desapareceu a nossa Marinha Mercante e porque se reduziu drasticamente o negócio do transporte marítimo.

- Porque não aproveitámos, em tempo oportuno, a capacidade sobrante na Construção Naval Nacional para a construção de embarcações para Empresas Públicas ou tuteladas pelo Estado, em vez de as mandarmos construir em Estaleiros estrangeiros, nalguns casos a custos mais elevados.

- Porque é que, tendo Portugal uma posição geográfica privilegiada e sendo o negócio das marinas tão procurado internacionalmente, não somos capazes de gerar riqueza por essa via com a consequente criação de novas empresas e de emprego.

- Porque é que, cada Porto mais parece um Estado dentro do Estado, sem coordenação entre si, sem integração com as redes de comunicação, nomeadamente sem adequadas ligações ferroviárias, sem preocupações de viabilidade e competitividade. Quanto nos custa a Administração Portuária?

- Se os responsáveis pela gestão do nosso Mar e dos nossos Portos são os mais competentes e sabedores neste domínio.
- Se as Universidades portuguesas fazem investigação sobre o nosso Mar e, caso afirmativo, qual foi o resultado e qual a aplicação prática dessas investigações. - Porque desapareceu a nossa Marinha Mercante e porque se reduziu drasticamente o negócio do transporte marítimo.

Que resposta o Governo pensa dar às propostas dos mais de mil agentes deste sector de actividade que se reuniram recentemente no Fórum Empresarial do Mar.

- O que se está a passar com a extensão da Plataforma Continental que acrescentará ao nosso mapa uma dimensão equivalente a um país como a Índia.

- Qual o potencial de emprego que podemos gerar nestas actividades, num momento em que o desemprego – sobretudo o jovem – é uma das nossas maiores preocupações.

- Qual o impacto no PIB, a curto e médio prazo, do desenvolvimento adequado de uma política integrada de todas as actividades ligadas ao Mar.

- O que é que este governo tem planeado, que estratégia, que acções concretas vai desenvolver para gerir esta nossa riqueza e que dividendos esperar num espaço temporal identificado.”


Grupo Coordenador da PASC – Plataforma Activa da Sociedade Civil
Mário Baptista (AORN); Nelson Brito (APE); Miguel Cardina (ANJAP); Manuel Rio Carvalho (AAACM); Augusto Melo Correia (EuroDefense); Luís Campos e Cunha (SEDES); Leandro Esteves (DECIDE); Mariz Fernandes (AACDN); Américo Abreu Ferreira (APE); Mendo Henriques (IDP); Garcia Leandro (CNAF); António Figueiredo Lopes (EuroDefense);); Jorge Marques (APG); António Gentil Martins (CAVITOP); João Palmeiro (API); Pedro Sousa Ribeiro (AORN); Perpétua Rocha (PASC); Constança Romana (DECIDE); João Salgueiro (SEDES); José Simão (Associação 5 Elemento)

Ricardo Ferreira

Wikileaks: free press or neo-McCarthyism (texto original de John Huffstot)

O Wikileaks ocupou de rompão um lugar cimeiro na imprensa internacional, com impactos notáveis ao nível das relações internacionais e da diplomacia à escala mundial.

Se, por um lado, é verdade que os relatórios oficiais muitas vezes são de credibilidade duvidosa, basta recordar os casos mediáticos americanos como Watergate, o relatório relativo ao assassinato de JFK, ao nível das Armas de destruição maciça no Iraque, ou no caso português o Assassinato de Sá Carneiro.

A denúncia surgiu, muitas vezes, como uma grito de revolta, de reposição da verdade e exposição da corrupção. No entanto, a denúncia “sem rosto” (anónima) é igualmente uma ameaça, quer ao nível da credibilidade quer colocando em causa o direito à defesa directa, como sugere John Huffstot, poderá ser uma forma moderna de Macartismo e da caça às bruxas.

Serve este post de reflexão a uma situação nova que o Wikileaks inaugurou mas, numa sociedade moderna de informação e tecnologia, irá perdurar num horizonte temporal vastíssimo. Face a esta nova realidade é urgente uma reflexão individual, promoção da discussão e dedicar esforços no equilíbrio entre a verdade mas não abdicando da ética e dos princípios base salutares em democracia.

Ricardo Ferreira

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Tolerância de Ponte em Portugal

Com pouca surpresa li nas notícias que o governo irá dar tolerância de ponte aos funcionários públicos, nos dias 24 e 31 de Dezembro. Note-se bem que apenas os funcionários públicos têm direito a esta “borla”, que nada abona a favor da produtividade do sector.

Muito se tem falado de problemas de competitividade no país, especialmente culpando-se o sector público pelo peso que tem na economia e pela reduzida produtividade de cada um dos seus trabalhadores. É certo que podemos alegar falta de motivação das pessoas, mas não consigo perceber como é que um conjunto de trabalhadores que tem acesso a promoções automáticas na carreira (independente do desempenho), aumentos salariais mais ou menos garantidos ou a segurança total do emprego (não há despedimentos na função pública) não se consegue motivar e “vestir a camisola”.

Não acredito, contudo, que a culpa das maleitas do país é dos funcionários públicos, pois sei que um dos nossos principais problemas é a fraca qualificação e a elevada incompetência dos nossos gestores. Apesar disso, defendo que se deve procurar alguma razoabilidade.

Não defendo que as pessoas não devam tirar os dias 24 e 31. Defendo, contudo, que se o querem fazer, devem tirar um dia de férias, como o fazem os trabalhadores do privado. Porque raio estão os contribuintes a pagar por meio milhão de trabalhadores que tem a possibilidade de tirar estes dois dias de descanso? Não é o trabalho uma relação directa entre receita e custo? Ou entre benefício social e custo associado? Convenhamos que os trabalhadores têm direito ao seu descanso, mas se juntarmos as tolerâncias de ponte com os 14 feriados que os portugueses têm direito… temos aqui uma “borla”.

Finalmente, alguns podem alegar que noutros países da Europa há tantos ou mais feriados. É verdade. E também, nesses países os trabalhadores saem do trabalho às 17h. Só que não podemos querer ter os dois mundos. Se não produzimos e se ocupamos muito do nosso tempo de trabalho em cafés, em conversas particulares ou em almoços… temos de ficar mais tempo no local de trabalho. Ou estarei errado?

domingo, 19 de dezembro de 2010

O aumento dos custos da electricidade e a maior competitividade do país

Recentemente, no seguimento do nosso artigo que comenta as necessidades de flexibilização do mercado laboral, fomos informados do aumento dos preços da electricidade em Portugal, quer para empresas quer para os particulares. Algumas reflexões:

1 – Em 2010, os preços de electricidade em todos os países da Europa sofreram uma queda expressiva. Em Portugal tal não acontece dado o aumento do peso das energias renováveis e dada a protecção de preço patente nos contratos de concessão da EDP (não discutimos as suas valências).

2 – Quando se fala em competitividade e depois da tentativa de baixar os salários dos trabalhadores, esta notícia surge em contraciclo. Na realidade, o custo com energia é um dos principais custos das empresas (especialmente indústrias), e é bem capaz de compensar o corte dos salários. Aliás, o governo está a cortar salários, ao mesmo tempo que os custos sobem.

3 – Percebo o racional da subida dos preços da electricidade. Contudo, o que me questiono é sobre a nossa aposta cega e com pouca lógica económica nas energias renováveis. Ou seja, estamos a subsidiar uma forma de geração de electricidade, que faz algum sentido em termos de ambiente mas que não se enquadra com o nível de riqueza (ou será pobreza?) do país.

4 – Esta aposta nas energias renováveis é bastante interessante no seu modelo, na medida em que implica que o Estado concede um benefício para incentivar a construção de parques eólicos que, de outro modo, não seriam lucrativos. A minha questão, contudo, prende-se com a passagem de todos e quaisquer riscos do empreendedor para o Estado. Assim, porque raio se estão a possibilitar retornos superiores a 10% a investimentos sem risco?

A conclusão: continuamos com problemas de prioridades, possibilitamos aos privados investimentos com alto rendimento e sem risco e continuamos sem avaliar a atractividade financeira das nossas opções. Ou seja, perpetuamos os nossos problemas, numa postura de novo-rico irresponsável.

Leia Também:
Bons e Maus artistas;
Cortar na Despesa;
 

sábado, 18 de dezembro de 2010

Flexibilização do Mercado de Trabalho

Muito se tem falado em Portugal, nos últimos tempos, da necessidade de flexibilizar o mercado laboral, numa tentativa de aumentar a competitividade das empresas portuguesas. Adicionalmente, o governo optou, recentemente, pelo corte dos salários dos funcionários públicos, tentando levar as empresas privadas a seguir o mesmo exemplo.

Alguns pensamentos que gostaria de transmitir:

1 – Na realidade, o mercado de trabalho em Portugal é pouco flexível, na medida em que é impossível ou quase impossível despedir um trabalhador pouco ou não-eficiente. Isto é verdade;

2 – Nos últimos anos, o custo real do trabalho em Portugal e em especial na administração pública, tem subido de forma expressiva (em 2009 situou-se entre 5-6%), ao mesmo tempo que a produtividade não reage a esse aumento. Aliás, um problema crónico das economias é a persistência de alguns sindicatos com filiação política, que usam os trabalhadores e as manifestações como arma de arremesso, assumindo posturas claramente irresponsáveis e perigosas, a prazo.

3 – A tentativa de ingerência do governo nas empresas é algo que tem de nos preocupar. Aliás, qualquer agente económico corre sempre a tentação de controlar tudo o que puder. Contudo, convém não esquecer que o governo não foi capaz de controlar as contas públicas, tomar medidas estruturantes ou corrigir os problemas do país. Deste modo, o que o leva a tentar ou se quer ousar condicionar os salários dos privados?

4 – Os salários dos trabalhadores privados é dependente da lei da oferta e da procura e, tendencialmente, deverá assentar em questões de lucratividade das empresas. Ou seja, enquanto que no Estado a preocupação é de prestar um serviço à sociedade (esperemos) nas empresas a preocupação é gerar rendimento e lucros.

5 – Não esquecer que nas empresas privadas, os trabalhadores sofrem de um risco de despedimento, pelo que os salários deveriam ser superiores aos da função pública.

6 – Finalmente, deveríamos procurar focar mais a nossa atenção na qualidade das equipas de gestão (quer de topo, quer intermédias), na medida em que é necessário motivar as equipas e procurar orientar e dirigir para um determinado caminho, de forma inteligente e sábia. Contudo, os nossos gestores são de uma qualidade muito baixa…

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Preço do Petróleo por Celso Grisi

Expomos mais um artigo do professor Celso Grisi, publicado dia 12 de Dezembro que pode ser consultado na íntegra aqui.
Começa a desenhar-se um recúo desses preços para os próximos períodos. E já não é sem tempo, uma vez que esses preços ficam insuportáveis no momento em que os países desenvolvidos precisam recuperar suas economias. O petróleo, em alta, é um grande produtor de inflação nos países que guardem dependência do chamado “ouro negro”.

A resposta ao movimento de queda veio no mesmo instante. A Agência Internacional de Energia e a Organização dos Países Exportadores de Petróleo anunciaram novas estimativas para a demanda de petróleo no próximo ano.

A AIE prevê agora um consumo maior para 2011, dada a maior demanda dos Estados Unidos e da China. A expectativa é que a demanda mundial de petróleo chegue a 88,8 milhões de barris por dia no próximo ano, ou seja, 260 mil barris a mais do que a previsão anterior. Resta saber por que países com crescimento menor fariam maior demanda de petróleo.

A Opep prevê um aumento de demanda menor que a AIE. Por isso seus membros decidiram que, em princípio, não aumentarão a produção de petróleo no ano de 2011.

A produção deverá ser mantida para garantir esses preços tão altos. Isso só faz sentido se a demanda for menor. Então, por que a AIE vê crescimento no consumo futuro?
Apesar de expormos este artigo, queremos deixar uma visão alternativa, que é a nossa e é algo diferente da defendida pelo professor. Na realidade, acreditamos que o preço do petróleo irá continuar a subir, pelo menos nos próximos tempos. Defendemos isso pelos seguintes factores:

  1. Estamos actualmente numa época de grande frio, o que implica uma subida sazonal da procura por gasóleo de aquecimento e outras matérias-primas energéticas;
  2. A OPEP está bastante confortável com estes níveis de preço, após alguns anos com uma pressão nos seus orçamentos induzida pelo baixo preço do petróleo. Diz-se que o preço necessário para equilibrar o orçamento de alguns países é perto de $80-85 por barril.
  3. O ministro do petróleo da Arábia Saudita terá dito num jantar recentemente que o intervalo para o petróleo razoável é entre $70-90 por barril, quando antes defendia até $80. A suportar esta tese está o facto deste país, o principal país da OPEP, não ter aumentado a sua produção nos últimos tempos.
  4. Os campos petrolíferos actuais estão com taxas de declínio superiores a 6%. Significa isto que todos os anos as grandes empresas têm de iniciar produção que cubra esta diferença. Contudo, como vemos todos os trimestres, as empresas não conseguem crescimento de produção de petróleo, antes pelo contrário.
  5. A China irá abrandar um pouco o seu ritmo de crescimento. Parece algo consensual. Contudo, não só acreditamos que taxas de crescimento de 8-9% continuam a ser bastante boas, como este país é um país cujo modelo de crescimento económico é intensivo em matérias-primas. Adicionalmente, outros países irão emergir, como sendo o Brasil e a Índia.
A nossa conclusão é que o preço do petróleo estará estruturalmente suportado e irá subir de forma consistente no tempo, pelo que é necessário encontrar alternativas e ser mais eficiência. Contudo, somos da opinião que o caminho não passa pelo disparate da energia eólica, pelo menos nos moldes que estamos a tomar (aliás, acha normal que nos outros países da Europa o preço da electricidade esteja a baixar, enquanto em Portugal sobe consistentemente? Será que somos um país que se pode dar ao luxo de subsidiar desta forma este tipo de energia? Temos de assumir que não somos ricos...)

sábado, 11 de dezembro de 2010

"Economia" Europeia

Apenas para deixar um pequeno pensamento relativo à "Economia" do nosso país.

Como sabe, a Economia destina-se a orientar as decisões dos agentes económicos, que se preocupam em optar por alguns recursos em detrimento de outros, dada a sua escassez. Contudo, em Portugal e em vários países da Europa, parece que encontramos uma nova definição de economia.

Na realidade, consideramos que os recursos não são escassos, porque nos últimos anos sempre tivemos acesso ilimitado ao crédito. No entanto, e como ficou provado, não podemos fugir à máxima de escassez de recursos. E agora estamos a pagar bem caro...

Como as vezes oiço: "Sai de Baixo..."

Retorno Esperado

Defendemos, desde sempre, que os investimentos têm de ser classificados em três características que os tornam únicos e que permitem uma correcta definição de prioridades e enquadramento numa estratégia de diversificação:

• Risco;

• Retorno Esperado;

• Liquidez.

Como já foi exposto, o risco pode ser dividido em Risco de Mercado (que não pode ser diversificado, apenas mitigado através de menor ou maior exposição) e Risco Específico (que pode ser diversificado por um conjunto de activos com determinadas características, podendo mesmo ser minimizado ou reduzido a zero).

Neste artigo iremos focar a nossa atenção no Retorno Esperado, sendo que apresentaremos alguma teoria financeira de suporte:

RETORNO ESPERADO

Existem diferentes níveis de risco nos investimentos, devendo existir uma relação muito próxima entre o risco incorrido e o retorno exigido. A teoria financeira classifica os investidores racionais como avessos ao risco, o que significa que são investidores que procuram maximizar a relação risco/retorno:

  • Para um mesmo nível de risco, procuram o máximo retorno possível;

  • Para o mesmo nível de retorno, procuram incorrer no menor risco possível.

Como também sabemos, apesar de fazer todo o sentido, esta máxima é muitas vezes esquecida por um grande número de pessoas. Para a melhor escolha dos seus depósitos, veja este artigo escrito pelo autor do Produtos Bancários.

RETORNO DO ACTIVO SEM RISCO

Os problemas de crédito que o pa´ss atravessa têm colocado em cima da mesa o debate sobre a dívida dos governos, entidades que eram percebidas como sendo as menos arriscadas do sistema. A teoria financeira ainda o considera, apesar de ser necessária alguma distinção entre países. Estes activos são considerados “sem risco”. Assumindo a premissa que todos somos avessos ao risco, torna-se claro que apenas deveremos aceitar taxas de retorno superiores à taxa de retorno proporcionada pelo “activo sem risco”.

Assim, o retorno deste activo é o patamar mínimo de retorno exigido. A título de exemplo, a dívida portuguesa paga actualmente, para um prazo de dez anos, mais de 6% de juro. Como justificar que os depósitos a prazo para um mesmo prazo não cheguem aos 4%?

O PRÉMIO DE RISCO

Sendo o nosso foco os activos com risco, significa que ao retorno do “activo sem risco” tem de ser adicionado um prémio que compense o investidor pelo risco adicional que incorre. Na teoria, isto é chamado de Prémio de Risco, directamente dependente do nível de risco do activo, denominado de Beta (cujo desenvolvimento remeteremos para o futuro).

O que importa referir é que, sempre que pensa num investimento e no retorno que quererá obter desse investimento, terá de considerar o patamar mínimo de retorno (“activo sem risco”) e um prémio de risco. É simples. Não se esqueça desta máxima, pois tem de ser devidamente remunerado pelo risco em que incorre.

Estes e outros assuntos, quer no âmbito dos investimentos, quer na vertente de poupanças, são discutidos extensamente nos nossos cursos de formação. Veja aqui alguns motivos pelos quais defendemos a importância de um curso.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Jornal Dínamo - A Educação Financeira do seu Filho

Salientamos a contribuição do Ricardo Ferreira para a edição de 6 de Dezembro do Jornal Dínamo.

Mais um artigo dedicado à Educação Financeira das Crianças, tema muito explorado pelo Ricardo.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Os Certificados do Tesouro Português

No seguimento do nosso artigo sobre os Certificados do Tesouro, vimos expor um artigo do Professor António Gomes Mota, publicado no Diário Económico. Fundamentalmente, as suas opiniões vão de encontro à nosso opinião e reforçam os nossos argumentos:

Foram recentemente publicadas as condições de aquisição para o mês de Dezembro dos Certificados de Tesouro (CT): 5.40% caso se detenham os títulos por cinco ou mais anos e 6.50% caso se detenha os títulos por dez anos.

(…)

Analisando, enquanto simples investidor individual, estas taxas oferecidas pelos CT, estamos perante uma opção de investimento que deve merecer atenção. Porventura a principal reflexão a fazer é o que pensamos sobre o futuro mais imediato da situação económico -financeira do país. Se tivermos uma expectativa optimista, mesmo que cuidadosa e ponderada, de que com maior ou menor grau de dificuldade, com mais ou menos ajuda externa, conseguiremos evitar o colapso financeiro e entrarmos numa linha de reajustamento orçamental consistente, mesmo que com crescimento económico limitado, estaremos perante um investimento muito interessante. Mantendo-nos no espaço euro, teremos a garantia que continuaremos a viver num ambiente de inflação controlada, a Alemanha e o BCE assegurarão que assim será, e assim, face às taxas oferecidas pelos CT haverá uma elevada probabilidade de se ter taxas reais razoavelmente positivas durante os próximos dez anos, considerando o actual nível de fiscalidade sobre este tipo de aplicações financeiras (21.5% de taxa liberatória inscrita no orçamento acabado de aprovar).

É claro que o investidor mais pessimista olhará para este investimento numa perspectiva diferente. Poderá considerar que haverá num futuro próximo ainda melhores oportunidades, embora se tal se verificar o cenário que então se viver certamente será bem mais incerto do que o atrás descrito, imagine-se apenas, senão o fim do euro, o euro sem Portugal, pelo que os rendimentos reais inerentes às taxas dos CT poderão acabar por se revelar uma desagradável surpresa. Ou poderá nem sequer querer ouvir falar em dívida pública nacional, preferindo antes o conforto da segurança dada por outra soberania europeia, mesmo que recebendo um rendimento significativamente menor. Resta ainda aquele que oscila entre o optimista e o pessimista, atraído por aquele nível de taxas oferecidos pelos CT, mas receoso do que estará aí para vir. Para estes e desde que acreditem que não entraremos em colapso absoluto haverá sempre a segurança de que a qualquer momento poderemos liquidar o investimento (recebendo apenas uma taxa de 1.5%), e aplicar os fundos noutra opção que ache mais interessante.

Ou seja, o investimento nestes produtos poderá fazer sentido, dependendo do nosso perfil de risco (como qualquer investimento) e da nossa visão do futuro da nossa economia, nomeadamente em termos de solvabilidade/capacidade de pagar as nossas dívidas.

Homenagem a Ernani Lopes

Apenas uma nota de homenagem à vida e percurso profissional e pessoal de um dos grandes economistas portugueses: Ernâni Lopes.

Após 4-5 anos de doença prolongada, o economista formado em 1964 pelo ISEG e doutorado em 1982, ganhou grande projecção no cardo de Ministro das Finanças do Bloco Central, tendo sido também um dos grandes impulsionadores da nossa entrada na Comunidade Económica Europeia.

Além das matérias económicas, tinha interesse noutras áreas como a Europa, a Defesa, a Religião e as relações entre Portugal e África.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Os Exchange Traded Funds (ETFs) vs. Fundos de Investimento Convencionais

Neste artigo, iremos expor um artigo que publicamos recentemente no site do Produtos Bancários, que consideramos de exprema relevância nos dias que correm. Recomendamos, também, a leitura deste site, caso procure informações relativas aos vários produtos bancários, disponibilizados em Portugal:
Queremos dedicar um artigo aos Exchange Traded Funds (ETFs), ou em português, fundos de investimento transaccionados em bolsa, pois acreditamos serem uma classe de activos muito pouco conhecida e com grande potencial de criação de valor para o cliente.

Aliás, sabemos bem os motivos pelos quais estes fundos não são conhecidos no mercado: são uma concorrência directa e muito poderosa face aos fundos de investimento disponibilizados pelas várias casas de gestão.

As diferenças entre ETFs e Fundos de Investimento assentam numa diferença de conceito entre as duas classes.

Os ETFs são fundos de gestão passiva, que se destinam a replicar um índice, procurando obter um desempenho muito próximo do índice.Com a maior sofisticação por parte dos clientes, foram surgindo vários tipos de ETFs, que investem em estratégias tão diferentes como posições longas ou curtas no mercado, alavancagem, compra de activos alternativos como matérias-primas, entre outros.

Por seu turno, os fundos de investimento convencionais são considerados fundos de gestão activa. Pretendem, através do recurso a equipas de gestores profissionais, obter desempenhos superiores aqueles dos índices que pretendem replicar. Também existem variadas classes de investimento, como acções, obrigações, matérias-primas, hedge funds… enfim, a evolução tem sido grande.

Somos algo cépticos (e os resultados comprovam-no) em relação à gestão activa, dado acreditarmos que é um jogo que está perdido à partida. É muito difícil fazer melhor que a média e a tentativa de o obter costuma vir associada com dissabores, traduzidos em perdas de rendimento.

O que distingue estes fundos:

DISPARIDADE DE RETORNOS

A diferença conceptual acima referida traduz-se em disparidades de desempenho bastante significativas.

Os ETFs cobram comissões de gestão muito reduzidas e efectuam muito poucas transacções, fazendo apenas as necessárias para rebalancear a carteira com uma periodicidade predeterminada.

Assim, podemos dizer que a taxa global de custos poderá rondar entre os 0,1%-1%. A esta taxa temos de acrescer a taxa inicial de corretagem (para compra do título, a que faremos referência posteriormente, e as comissões de custódia).

Os fundos de investimento convencionais, por seu turno, cobram um conjunto elevado de comissões, como tratado no capítulo Guia de Fundos, podendo atingir taxas globais de custos entre 2%-5%. Uma grande diferença que, a prazo, têm um grande impacto em qualquer estratégia de investimento.

Este diferencial implica que apenas aproximadamente 20% dos fundos de gestão activa conseguem melhores retornos que os ETFs, na mesma classe de investimento.

MOVIMENTAÇÃO/LIQUIDEZ

Uma outra diferença consiste na possibilidade de movimentação destes fundos. Ou seja, os ETFs sendo transaccionados em bolsa, podem ser comprados e vendidos instantaneamente, sendo que os fundos convencionais têm ordens diferidas no tempo, querendo isto dizer que o cliente dá a ordem num dia, a um preço desconhecido, e a liquidação acontece até cinco dias depois.

Claro está que esta diferença poderá representar uma grande desvantagem para os fundos de investimento convencionais, dado que pode implicar na perda de grandes oportunidades de investimento, ou desinvestimento.

TRIBUTAÇÃO

Com a introdução do Plano de Estabilidade e Crescimento, deverão ser feitas alterações em termos de tributação das mais-valias em acções (o ETFs é equiparado a uma acção). Assim, os ETFs perderam a grande vantagem fiscal que tinham, que se traduzia na isenção de tributação de mais-valias ao fim de um ano.

Por seu turno, os fundos convencionais (domiciliados em Portugal) têm a sua tributação dentro do fundo, o que permite uma melhor eficiência fiscal. Contudo, os fundos não domiciliados em Portugal têm o mesmo regime de tributação das acções e dos ETFs.

O QUE FAZER


Os ETFs representam uma boa alternativa de investimento, para quem tem estratégias de investimento mais estáveis e consistentes no tempo, dado que a grande vantagem (comissionamento) só começa a fazer realmente a diferença ao fim de algum tempo (digamos 2 anos, dependendo do montante).

Caso prefira seguir uma estratégia de reforços continuados da sua carteira com alterações regulares à sua composição, poderá utilizar os dois tipos de instrumentos, em simultâneo, procurando aproveitar o que ambos têm de bom.

Somos adeptos de estratégias de investimento mais estáveis, porque acreditamos que são uma melhor forma de obter bons níveis de rendimento, dados os conhecimentos financeiros da generalidade da população. Assim, acreditamos muito nos ETFs e sabemos que deveriam ser uma classe de activos com maior peso na carteira dos investidores. Aliás, o desconhecimento das características destes produtos faz com que se considerem produtos mais arriscados do que os fundos de investimento, o que não é, de todo, verdadeiro.
Leia Também:
Guia de Fundos de Investimento;
Malditos Especuladores;
A Gestão do Risco.