Nesta nota queria fazer referência a um artigo que li recentemente e que despertou a minha atenção. Fê-lo ao retratar em poucas palavras o grande problema do nosso país: a crise de prioridades, que é espelhada na medíocre ou mesmo fraca qualidade da nossa classe política.
Na realidade, a ciência económica apresenta bastantes desafios, sendo a sua magnitude amplificada pela existência de interesses específicos de cada agente económico. Ou seja, apesar dos interesses das várias pessoas sejam singulares, sejam colectivas, poderem ser em algum ponto idênticos, a dada altura do tempo ou em determinados assuntos tornam-se antagónicos. Assim, a dificuldade de qualquer política torna-se em agradar aos vários interesses sendo que, naturalmente, os interesses mais poderosos são preferidos.
É neste ponto que começamos a perceber quem são os bons ou maus economistas/políticos. Em suma, um bom político é aquele que é capaz de analisar os impactos das suas políticas não apenas pelos seus efeitos imediatos mas também pelos seus efeitos a longo prazo. É aquele que tem a capacidade de avaliar a relação custo/benefício para vários grupos de interesses. Remata que, o mau economista vê apenas o que está diante dos olhos, alheando-se do que está ao seu redor, algo muito comum no campo das políticas públicas.
O artigo chama-nos a atenção para a necessidade de avaliação das escolhas e para o estabelecimento de prioridades, válidas para o longo-prazo. Exemplos patéticos que espelham a nossa crise de prioridades são inúmeros, podendo destacar a construção de estádios de futebol para o Euro2004 (já se fala da necessidade de demolir uns quantos), a construção do TGV (não, o governo não parou a construção, limitou-se a adiar a construção de dois trechos, embora a construção do primeiro implique, forçosamente, a construção dos restantes) ou o corte em alguns subsídios sociais, essenciais à sustentabilidade do país (como sejam os abonos de família).
Em qualquer análise concluímos que esta postura tem repercussões e impactos nefastos, os quais estamos a assistir nos dias que correm. A cada dia que passa, o nosso Governo vai perdendo credibilidade. Os nossos parceiros europeus já não acreditam na qualidade do nosso orçamento e no pseudo-esforço que estamos a fazer para controlar as nossas contas públicas. Aliás, mesmo sabendo o impacto do (des)governo actual, fomos capazes de ser o único país da zona Euro a aumentar a despesa pública, agravando com isso o défice orçamental. Os investidores internacionais exigem, cada vez mais, retornos superiores para o dinheiro que nos emprestam, o que resulta em aumentos significativos do custo financeiro incorrido pelo Estado. Mas afinal, quem queremos nós enganar?
Tendo exposto o péssimo exemplo que nos vem de cima, não nos podemos admirar que os cidadãos embarquem nas mesmas posturas irresponsáveis. Não será de estranhar o elevado nível de endividamento das famílias, ou as loucuras cometidas nas épocas natalícias com as compras de Natal (que todos os anos batem recordes). A solução? Formação, educação (sim, os nossos filhos precisam de ser educados pelos seus pais), espírito crítico e algum bom senso, aplicado na vida pessoal de cada família. Se começarmos a resolver o problema dentro de casa, o problema acabará por ir sendo erradicado.
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