quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Malditos Especuladores

Gostaríamos de deixar algumas notas tendo por base um artigo publicado por Miguel Sousa Tavares na sua coluna do Expresso, colunista que seguimos com alguma atenção:

É evidente que os celebérrimos 'mercados' são apenas um bando de abutres especuladores, contra o euro ou contra países vulneráveis escolhidos a dedo, que tiram todo o partido que podem da situação. É evidente que, quando tudo isto estiver resolvido, de uma forma ou de outra, o mundo vai ter de encontrar medidas para pôr termo a esse poder sinistro dos especuladores financeiros (que nos lançaram na crise e se aproveitam dela), que roubam o trabalho das pessoas, a poupança das famílias, a riqueza das nações. Ou o fará ou o capitalismo - tal como o conhecemos, fundado nas leis de 'verdade' do mercado - tem os dias contados.
Em primeiro lugar, salientar a definição de Especulador. Na realidade, existe alguma confusão relativamente a este conceito. Um especulador, na sua génese, é um investidor que compra um activo na esperança que este venha a valorizar. Como somos todos pessoas racionais, queremos comprar algo para ganhar dinheiro, e não para perder.

Em segundo lugar, interessa que nos detenhamos um pouco na função dos mercados. Os mercados existem para fazer o encontro das necessidades de financiamento (pelos credores) com as necessidades de investimento (pelos investidores). Em qualquer processo de crédito e investimento, as duas partes têm de avaliar algumas variáveis. O credor tem de avaliar o custo do capital, o que irá definir um patamar máximo para a taxa de juro que está disposto a pagar num crédito. O investidor tem de avaliar o risco que pretende incorrer e a remuneração que exige.

Em terceiro lugar, os mercados encontraram recentemente um instrumento de protecção para o incumprimento de crédito. Quer isto dizer que foram criados seguros para que os investidores se protejam de eventuais falhas no pagamento por parte dos credores. O facto de os mercados estarem num tumulto, actualmente, deve-se à deterioração excessiva das métricas e da qualidade de crédito dos governos. Ora, fará sentido culpar os mercados pelo descontrolo ao nível das finanças públicas dos governos? Isto não será o mesmo que culpar o polícia por não apanhar o ladrão?

É certo que poderiam ser criadas algumas regras para melhor proteger ambas as partes. Contudo, é certo que tem de existir maior controlo sobre a classe política de modo a que seja forçada a tomar as decisões que melhor se enquadrem com as necessidades da estabilidade e sucesso do país.

Finalmente, acusa os especuladores por roubarem o trabalho, a poupança e a riqueza das nações. Mas na realidade, quando subscrevemos produtos de investimento, estamos todos a fazer parte dos mercados. Quando queremos que um investimento seja mais lucrativo, estamos a tornar-nos especuladores. Quando exigimos reformas a 100% na altura da reforma, estamos a recorrer aos mercados para que nos garantam as reformas. Ou seja, todos nós ganhamos ou perdemos, directa ou indirectamente com esta postura dos mercados. Todos somos actores. O problema é que, mais uma vez, quando ganhamos somos uns heróis e quando perdemos a culpa é dos especuladores e dos outros.

Uma última nota. No seu artigo MST fala que as crises são épocas de oportunidades e que nos compete a nós saber aproveita-las. Não podíamos estar mais de acordo.


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