Tendo assistido à palhaçada política inerente à discussão do orçamento de Estado, e ao confronto entre os dois principais partidos do pais, gostaria de deixar aqui algumas reflexões, que considero úteis.
Em primeiro lugar, acredito que esta trapalhada de negociações não tem sido algo inocente, como seria de esperar no mundo político (e indiferente aos impactos politicos, económicos e sociais que induz). Na realidade, o PS tem aproveitado para forçar a corda, tentando passar o ónus da dita crise para o PSD. Ou seja, andaram durante 15 anos a fazer disparates e foi necessário uma crise financeira sem precedentes para por a nú as suas incompetências. Contudo, após estes disparates, não foram capazes de admitir os erros, com excepção de terem admitido que a definição de parcerias público-privadas não foi a mais correcta (apesar de não querem negociá-las, apesar dos impactos enormes que iremos viver no futuro e depois de terem com elas beneficiado alguns grupos económicos nacionais).
Por seu turno, o PSD andou numa posição algo dúbia (pelo menos aparente), ora dizendo que aprovaria o orçamento, ora advogando que o chumbaria. Contudo, e finalmente, percebe-se que a arrogância do governo encostou o PSD à parede, obrigando-o a tomar uma decisão, pelo menos para defender alguns princípios que estão na sua base, na sua estrutura enquanto partido. Por que raio o governo não acedeu em algumas das propostas do PSD? Certamente porque parte delas iria afectar os afectados pelos disparates económicos vivenciados no passado... Ou melhor, como se percebe a incompetência do governo em cortar com a despesa, ao mesmo tempo que pede a todos os portugueses um esforça colossal para combater o problema do endividamento e da fraca estrutura económica nacional? Num ano que se pedem cortes, está o Estado a aumentar a despesa. Será isto compreensível?
Todo este discurso para falar agora nos impactos de uma eventual não aprovação do orçamento (embora acredite que o PSD apenas está a procura de pretextos para se abster na votação sem perder a face). Contrariamente ao que alguns dignatários nacionais têm vindo a advogar, sou favorável a uma não aprovação do orçamento. E os meus motivos são simples:
Em primeiro lugar, porque sou jovem e sou mais favorável a que se resolvam os problemas reais do país, os problemas estruturais, do que se esteja, mais uma vez, a tomar comprimidos que suavizam os impactos mas não resolvem o problema. Sim, porque é necessário aumentar a competitividade do país, e não aumentar impostos e fazer com que os trabalhadores mais qualificados fujam do país (por exemplo),
Em segundo lugar, porque está provado que, quando o estado aumenta impostos, é incapaz de os voltar a reduzir, pois com o aumento de impostos vem sempre um aumento da despesa;
Em terceiro lugar, porque acredito que o peso do Estado na economia é excessivo, sendo este um dos principais problemas do país. Aliás, só este peso do Estado (directo ou por influência) é que justifica não termos uma economia e uma gestão assente no mérito (por contraponto de influências, cunhas e outros);
Em quarto lugar, porque acho que se não tivemos políticos e governantes competentes nos últimos anos, tal não será resolvido de um dia para o outro. Precisamos de uma alteração estrutural no nosso paralelamente e no governo, de modo a garantir que são os mais qualificados e não os políticos de carreira que irão para a política.
Finalmente, após todos estes argumentos (em especial do último) acho que o impulso para a mudança tem de vir de fora. Vimos que este orçamento teve um cunho internacional muito forte e foi necessário sermos pressionados pelos mercados financeiros a apresentar medidas (depois de vários meses a assobiar para o lado e a fingir que nada se passava). Daí achar, talvez ingenuamente, que a entrada do FMI em Portugal é o melhor que nos pode acontecer a médio-longo prazo, pois não vejo forma mais eficaz de abanar com os interesses instituídos, do que uma instituição sem as influências que temos tido, nas últimas décadas, em Portugal (talvez desde o 25 de Abril?).
Nota final - Não estou com este artigo a assumir um lado em termos políticos. Quis apenas expressar algumas opiniões, mais no âmbito económico do que no político. Pelo que se pareceu que tomei algum partido, não o fiz. Neste caso, apenas quis tomar o meu partido e o da minha família e amigos.
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