sábado, 14 de agosto de 2010

PRODUTIVIDADE

Queremos deixar algumas referências relativamente a um tema que tem andado sempre na comunicação social, tendo um carácter político muito intenso: a produtividade.
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Na realidade, este tema económico tem sido muitas vezes utilizado como arma de arremesso político, sendo muitas vezes referido como um dos principais problemas da economia portuguesa.
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Estamos fartos de ouvir que os trabalhadores portugueses não são produtivos, que não trabalham e que são preguiçosos. Daí que as propostas dos nossos economistas, no sentido de dar maior competitividade à economia, passem muito pela contenção ou mesmo pelo corte real dos salários (quanto o salário sobe menos do que a inflação).
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Afinal, o que significa a expressão produtividade?
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De uma forma muito simples, a produtividade não é mais do que a relação que existe entre a quantidade de produto (ou riqueza gerada pelo país) e a quantidade dos factores de produção usados para a sua obtenção (sejam eles trabalho ou capital). A produtividade do factor trabalho é medida como a relação entre a riqueza criada e o custo do trabalho (número de horas multiplicado pelo custo horário do trabalho).
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Mas afinal, quais os motivos para a falta de produtividade em Portugal?
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1 - Fraca qualidade da classe gestora:
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Sendo sinceros, damos algum crédito e razão a algumas das críticas feitas aos trabalhadores portugueses pois, da nossa experiência profissional, vemos vários exemplos de maus profissionais e de posturas muito erradas por parte de muitos trabalhadores. Contudo, somos da opinião que os problemas de produtividade são muito profundos e sérios e acreditamos que a maioria dos problemas advém fundamentalmente da fraca qualidade da nossa classe gestora e das más práticas de gestão de recursos humanos das nossas empresas. Em poucas palavras, exemplos como ausência de promoções ou aumentos de forma consistente no tempo, aumentos iguais para todos os trabalhadores (independentemente das avaliações de desempenho que, aliás, não abundam), promoções automáticas com base na antiguidade, aumento constante de objectivos sem contra partidas, ausência de políticas de formação coerentes, ente muitos outros.
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2 - Fraca motivação dos trabalhadores:
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Achamos incrível como é que a classe gestora em Portugal ainda não percebeu que um trabalhador motivado produz muito mais do que um trabalhador que não tem motivação para trabalhar. Não compreendemos como é que não se ocupam em tentar aprender com as sociedades mais desenvolvidas que a nossa neste campo, já que queremos estar sempre "à frente", embora acabemos por concluir que apenas nos preocupamos com assuntos de relevância secundária.
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Na realidade, a falta de motivação em Portugal é gritante e consideramos que resulta muito do referido no ponto anterior. Adicionalmente, sentimos que em Portugal se perdeu a noção e o respeito pelo trabalhador enquanto ser humano com família e vida própria, com interesses pessoais e valores singulares e únicos. Torna-se preocupante quando se assume que os horários de trabalho não devem ser cumpridos e que o trabalhador tem de ficar mais tempo no escritório para acabar o trabalho, que muitas vezes é excessivo. Quando saímos à hora estipulada (aliás, é por essa hora que somos pagos) somos criticados e olhados de lado. Mais uma vez, noutras sociedades desenvolvidas (ver o exemplo dos países do norte da Europa) quem sai depois do horário é mal visto, pois é olhado como não sendo capaz de trabalhar com competência e eficiência, pois aí o trabalho está melhor dimensionado.
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É urgente olhar para o trabalhador como uma pessoa na sua íntegra, procurando endereçar todas as suas vertentes, desejos e interesses, e não apenas o mínimo indispensável para que possa trabalhar com aproveitamento. Não nos podemos ficar pelo suficiente e as políticas de hoje estão voltadas para esta nota.
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3 - Produção com base em produtos de baixo valor acrescentado:
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Uma crítica muitas vezes esquecida, pois envolve algo mais estrutural e poderoso que os trabalhadores, prende-se com o numerador da expressão de produtividade: o produto. Na realidade, a riqueza nacional é a soma de muitas grandezas. Contudo, por ora apenas interessa que a riqueza gerada é muito baixa, pois está assente em produtos com baixo valor acrescentado e sem componente tecnológica (quer no resultado, quer no processo produtivo que o origina). Ou seja, produzimos camisas, sapatos, rolhas de cortiça, azeite e vinho, muitas vezes com recurso a tecnologia obsoleta. Utilizamos incentivos comunitários para comprar carros de luxo e depois admiramo-nos que as empresas estrangeiras prefiram instalar-se em economias com recursos humanos mais qualificados e mais baratos. Naturalmente que o resultado disto tudo é uma economia muito pouco competitiva.
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4 - Força sindical muito poderosa e sem noção da realidade:
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Um último ponto, embora certamente faltem muitas justificações para esta problemática, prende-se com a existência em Portugal de forçar sindicais muito poderosas e com preocupações políticas (nomeadamente ligadas a um partido político em especial). Não sendo o interesse do trabalhador o ponto central da sua actuação, é natural que as negociações com os empregadores não sejam orientadas para um consenso razoável. Já se perdeu muita a noção das coisas, e prefere-se fazer greves a evitar que as empresas sejam economicamente viáveis e competitivas, situação que garantiria a sustentabilidade dos empregos no longo prazo. Certamente que há casos de excepção e também não procuramos defender que os empregadores são uns "anjinhos". Contudo, acreditamos que um pouco de bom senso não faria mal nenhum a estes dirigentes (ver o exemplo das negociações na Autoeuropa, que correram o risco de resultar num sério problema nacional).
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Postos estes argumentos, como resolver os problemas?
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As soluções não são simples, e não é de esperar que este seja o campo para apresentar soluções, embora convidemos todos os leitores interessados a deixar as suas opiniões e sugestões. Contudo, queremos salientar que o problema que enfrentamos é estrutural e que a sua solução envolve uma alteração profunda não só do sistema produtivo mas também das mentalidades dos trabalhadores e empregadores. Temos de perceber que embora a maximização do lucro seja algo necessário, tal passa em muito pela maximização da satisfação e motivação dos trabalhadores. Como é sabido, atravessamos uma crise de elites e é necessária uma mudança ou rejuvenescimento das mesmas. Da nossa parte, procuraremos nesta plataforma e nas formações que fazemos, contribuir um pouco para a alteração das mentalidades, através da formação e instrução, e não pela imposição. O resto virá por acréscimo, com o tempo.

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